
Hoje vivemos um paradoxo: comer mal virou normal. Ultraprocessados entraram de vez na rotina, vendidos como solução rápida, prática e até “inofensiva”. Já quem escolhe comida de verdade muitas vezes é visto como exagerado, rígido ou obcecado por saúde. Mas, do ponto de vista da medicina do esporte e da fisiologia humana, o cenário é o oposto: o corpo não foi feito para operar com alto consumo de açúcar, farinhas refinadas, aditivos e alimentos hiperpalatáveis todos os dias. Ele funciona melhor quando recebe aquilo para o qual é biologicamente preparado: proteínas, vegetais, frutas, fibras, gorduras de boa qualidade e água.
O que a rotina ultraprocessada causa no corpo – e por que o desempenho cai
A maioria dos ultraprocessados combina três elementos que prejudicam o organismo ao longo do tempo: excesso de carboidratos simples, gorduras de baixa qualidade e baixo teor de fibras. Essa combinação provoca picos de glicose, desencadeando respostas hormonais intensas e repetidas. O resultado é um ciclo de fome precoce, inflamação crônica e acúmulo de gordura corporal. O impacto no desempenho físico é direto: menos energia sustentada, pior recuperação muscular, maior propensão a lesões e queda na qualidade do sono.
Estudos mostram que dietas ricas em ultraprocessados aumentam o risco de doenças do coração, resistência à insulina, obesidade e até declínio cognitivo ao longo dos anos. Para o atleta – amador ou profissional -, isso significa menor potência muscular, menos resistência, maior fadiga e pior capacidade de adaptação aos treinos. Comer de forma inadequada não afeta apenas a saúde futura; compromete o desempenho do dia a dia.
Por que comer bem não é restrição – é autocuidado com efeito acumulativo
Optar por comida de verdade não deveria ser tratado como radicalismo. É simplesmente alinhar a alimentação ao que o organismo precisa para funcionar bem. Proteínas magras promovem saciedade e sustentam a massa muscular. Legumes, frutas e fibras ajudam a modular a inflamação, equilibram a glicemia e nutrem o intestino. Gorduras boas favorecem o equilíbrio hormonal e fornecem energia de longa duração. Já a água é essencial para regular a temperatura, a circulação, a digestão e o desempenho físico.
O ponto central não é proibir, demonizar ou moralizar alimentos. É compreender que saúde não se constrói com exceções: ela é resultado da soma de pequenas escolhas repetidas diariamente. Comer comida de verdade reduz o risco de lesões, acelera a recuperação pós-treino, melhora humor, atenção e produtividade. Trata-se de responsabilidade com o próprio corpo, não de rigidez.
Promover saúde é voltar ao simples. O básico que sempre funcionou: comida de verdade, movimento, sono adequado e constância. Entre radicalismo e descuido, existe um caminho equilibrado que devolve ao corpo aquilo que ele entende, reconhece e sabe metabolizar.
Dr. Rafael Rivas Pasco – CRM/SC 15495 | RQE 15.008
Médico do Esporte
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