Utilizar na dissertação palavras e expressões da linguagem falada é um dos erros que tira pontos na Competência 1 da prova de redação do Enem, se você repetir um erro desse tipo. Ou seja, perde pontos se cometer um erro do mesmo tipo duas vezes.
Não é à toa que isso está na primeira competência: ela avalia seu domínio global da escrita, e não da fala, que é outro modo de comunicação, com outros protocolos e regras. A questão é que há várias palavras que são comuns na linguagem falada.
Um pouco de confusão ocorre porque nós lemos essas palavras em narrativas, romances e até em reportagens, gêneros em que elas são permitidas, e nos acostumamos a elas. Uma dissertação é, em princípio, endereçada a qualquer leitor, não a um leitor específico, por isso você não pode conversar com quem a está lendo.
“O aluno não deve escrever em dissertação como se estivesse conversando com alguém. Ele deve passar a mensagem com foco na informação, se concentrar naquilo a que se refere, seu conteúdo, e não dialogar com quem o lê. É comum nas dissertações aparecerem frases como ‘então, se você conhece alguém que sofre preconceito, denuncie’, ou seja, a pessoa conversou diretamente com o leitor. Ela deveria escrever, por exemplo, ‘quando alguém sofre preconceito isso deve ser denunciado’. Se o aluno mantiver em mente que deve ser impessoal e não pode se referir ao leitor, ficará mais fácil evitar as oralidades”, explica a professora Nathália Macri Nahas, colaboradora do Guia do Estudante Redação.
As cartilhas do participante da prova do Enem, divulgadas todos os anos pelo Inep, dão pistas, mas não aprofundam a abordagem ou os exemplos. Elas sugerem evitar a repetição de alguns termos, pois essa repetição é que tipifica uma conversa – quando a pessoa encadeia ideias em frases curtas, sem muita preocupação de coesão e adequação de sentido da palavra no conjunto. As cartilhas exemplificam com “e”, “aí”, “daí” e “então”, instruindo os candidatos a usar palavras mais formais.
♦ Usar aí e daí
De fato, usar aíe daípode ser considerado oralidade pelo avaliador, já que inicialmente ambos são advérbios referentes a lugar (como em “não coloque a toalha molhada aí” ou “sai daí”). Assim, não é adequado usá-los como conectivos, e escrever, por exemplo: “o governo entrou em crise fiscal e aí começou a cortar gastos”; ou “a inflação tornou-se um problema, daí o Banco Central aumentou a taxa de juros”. O texto da cartilha sugere que o uso desses termos, dessa forma, será considerado oralidade.
♦ Usar E repetidamente
Usar erepetidas vezes também pode ser oralidade. Comoe é principalmente usado como conjunção, deve preferencialmente ligar períodos, não frases estanques. Usar uma vez tudo bem, mas pode ser considerado oralidade iniciar duas ou três frases com ele.
♦ Uso de então
Surpreso com a inclusão da palavra “então” como possível erro? Pois esse é um caso especial em que a instrução do Inep pode confundir, já que é possível usar entãoadequadamente na dissertação. A palavra pode ser usada como conjunção, com o sentido de logo, nesse caso, dessa forma; e também como advérbio temporal, com o sentido de aquele tempo ou época. Exemplos de uso correto:
Como conjunção: Se o governo exige deveres do cidadão, então deve também zelar por seus direitos.
Como advérbio temporal: A Constituição de 1988 consagrou os direitos dos indígenas. Desde então, eles lutam pela demarcação de suas terras.
Algumas contrações são consideradas regulares na escrita, mas outras geram dúvidas entre os gramáticos: alguns dizem que é linguagem oral, outros que não é. São os casos dos termos dum(demaisum), duma(demais uma), num e numa (emmaisumeuma). Como há dúvidas entre os gramáticos, o candidato provavelmente não perde pontos ao usá-los, mas sugerimos evitá-los. Afinal, numajá gerou até a gíria numas. Com certeza evite pra(em lugar de para), tá(em vez de está), né(de não é), são da linguagem oral.
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