Enviado por folhagospel em 25/09/2014 05:43:24 (70 leituras) |
Jornalista da revista Época acompanharam dois pastores e mostram a habilidade para driblar as imposições da lei eleitoral sem desrespeitá-la.
A revista Época publicou uma reportagem sobre “o jeito evangélico de pedir voto e fazer política”, assinada pelos jornalistas Flávia Tavares e Tiago Mali. “Por lei, ele não pode pedir voto no culto. Pode, no entanto, suplicar que rezem por ele. Até outubro, esse tipo de cena se multiplicará nos milhares de igrejas do país. Candidatos evangélicos de diversas denominações (só pastores são 270) tentarão chegar ao Congresso”, escrevem Flávia e Tiago, traçando um perfil do candidato que se identifica como evangélico. Confira a íntegra da matéria abaixo: O breu e o silêncio da noite dominavam a ampla sala. Jovens sonolentos, de boné, calça jeans, camiseta e casaco de capuz formavam um círculo. Esperavam em pé, rodeados de cadeiras de plástico e uma mesa de som. Eram 5h20 de uma quarta-feira fria de julho, e o sol ainda não se erguera no Setor de Mansões de Sobradinho II – apesar do nome, uma área pobre de Brasília. Ainda na penumbra, o pastor Rodrigo Delmasso pôs fim à espera. Vestia calça e blusa de moletom. Subiu ao diminuto palco e se embrulhou numa bandeira do Brasil. “Vamos orar, gente?”, disse Delmasso. Apertou bem os olhos, baixou a cabeça e abraçou o pastor titular daquela pequena igreja. Delmasso descarregou, com a voz forte e num só fôlego, a ladainha que induziria aqueles 25 jovens a um aparente transe. “Meu Deus, estamos vivendo neste país um momento de decisão. Nós pedimos, em nome de Jesus, que o Senhor possa, Pai amado e Pai querido, conduzir essas eleições. Que levante homens justos, homens para ocupar a posição de poder que estejam ligados ao Pai, comprometidos em estar trabalhando pelo bem das pessoas!” “Aleluia”, respondiam incessantemente, mãos ao alto, os fiéis. “Que o Senhor possa levantar, meu Deus, homens e mulheres que combatam a desigualdade social, que combatam a violência, que possam combater, em nome de Jesus, todas as mazelas existentes em nossa sociedade. Que o senhor possa levantar homens e mulheres de Deus que possam assumir a gestão do nosso país.” “Amém! Aleluia!” A oração durou três intensos minutos. Acenderam-se as luzes. Delmasso, de 34 anos, é um jovem pastor da igreja evangélica Sara Nossa Terra. É também candidato a deputado distrital – em Brasília, o equivalente a deputado estadual. Numa cruzada político-religiosa, ele tem madrugado para visitar igrejas, falar sobre “a sociedade que queremos” e pedir orações. A panfletagem tradicional fica do lado de fora dos templos. Por lei, ele não pode pedir voto no culto. Pode, no entanto, suplicar que rezem por ele. Até outubro, esse tipo de cena se multiplicará nos milhares de igrejas do país. Candidatos evangélicos de diversas denominações (só pastores são 270) tentarão chegar ao Congresso. Delmasso é um dos 345 postulantes a um mandato que usam na urna títulos como “pastor”, “bispo” ou “missionário”, segundo um levantamento feito por ÉPOCA. É um crescimento de 47% em relação a 2010 e mais que o triplo de 1998. Num Brasil cada vez mais evangélico, que pode eleger um deles para o Planalto, ÉPOCA acompanhou de perto o jeito evangélico de fazer política – e campanha. Seguimos dois pastores-candidatos. Um foi o próprio Delmasso, do PTN, pastor de uma igreja fundada em 1992, com mais de 1.000 templos e 1,3 milhão de fiéis. O outro foi o deputado federal Ronaldo Fonseca, candidato à reeleição pelo Pros do Distrito Federal. Fonseca é pastor da Assembleia de Deus, maior e mais tradicional denominação evangélica do país, fundada em 1910, com mais de 12 milhões de seguidores. Naquela manhãzinha gelada de julho, depois da reza pelo futuro do país e pela qualidade de seus líderes, preferencialmente “homens de Deus”, Delmasso conversou com os jovens. Estava descontraído. Muitos deles admitiram ser ex-dependentes químicos. O culto acontece tão cedo porque os moradores de periferia madrugam para trabalhar – e o caminho é longo. Os ônibus já circulavam lotados na avenida em frente ao templo antes das 6 horas. Delmasso não falou explicitamente que era candidato. Não precisava. Os presentes foram avisados na semana anterior de que ele estaria ali naquele dia. “Quem não quiser me ouvir falar não vem”, diz Delmasso, enquanto dirige seu carro pelas ruas vazias de Brasília. Seu raciocínio é simples: não é pecado usar o púlpito para falar de um país melhor, para incentivar o fiel a exercer seu papel de cidadão. Desde que não se peça voto. Delmasso não é exatamente carismático. Mas sabe falar com os jovens – e ouvi-los. Ele perora por dez minutos sobre os perigos de uma sociedade onde crianças têm acesso a livros em que se ensinam posições sexuais. Sobre as ameaças de uma legislação que visa baixar a idade de consentimento sexual dos 14 para os 12 anos – ou, como ele define, “a legalização da pedofilia”. Ambas as questões passam longe da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ele prossegue. Fala da proteção de suas filhas contra as drogas, tema sob medida para aquele público. Roga que os fiéis pensem no futuro que querem para si. A conferência é encerrada pelo pastor daquela unidade. Ele pede bênçãos “para a caminhada do Rodrigo”. |
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
O jeito evangélico de pedir votos e fazer política
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sexta-feira, 26 de setembro de 2014
O jeito evangélico de pedir votos e fazer política
Enviado por folhagospel em 25/09/2014 05:43:24 (70 leituras) |
Jornalista da revista Época acompanharam dois pastores e mostram a habilidade para driblar as imposições da lei eleitoral sem desrespeitá-la.
A revista Época publicou uma reportagem sobre “o jeito evangélico de pedir voto e fazer política”, assinada pelos jornalistas Flávia Tavares e Tiago Mali. “Por lei, ele não pode pedir voto no culto. Pode, no entanto, suplicar que rezem por ele. Até outubro, esse tipo de cena se multiplicará nos milhares de igrejas do país. Candidatos evangélicos de diversas denominações (só pastores são 270) tentarão chegar ao Congresso”, escrevem Flávia e Tiago, traçando um perfil do candidato que se identifica como evangélico. Confira a íntegra da matéria abaixo: O breu e o silêncio da noite dominavam a ampla sala. Jovens sonolentos, de boné, calça jeans, camiseta e casaco de capuz formavam um círculo. Esperavam em pé, rodeados de cadeiras de plástico e uma mesa de som. Eram 5h20 de uma quarta-feira fria de julho, e o sol ainda não se erguera no Setor de Mansões de Sobradinho II – apesar do nome, uma área pobre de Brasília. Ainda na penumbra, o pastor Rodrigo Delmasso pôs fim à espera. Vestia calça e blusa de moletom. Subiu ao diminuto palco e se embrulhou numa bandeira do Brasil. “Vamos orar, gente?”, disse Delmasso. Apertou bem os olhos, baixou a cabeça e abraçou o pastor titular daquela pequena igreja. Delmasso descarregou, com a voz forte e num só fôlego, a ladainha que induziria aqueles 25 jovens a um aparente transe. “Meu Deus, estamos vivendo neste país um momento de decisão. Nós pedimos, em nome de Jesus, que o Senhor possa, Pai amado e Pai querido, conduzir essas eleições. Que levante homens justos, homens para ocupar a posição de poder que estejam ligados ao Pai, comprometidos em estar trabalhando pelo bem das pessoas!” “Aleluia”, respondiam incessantemente, mãos ao alto, os fiéis. “Que o Senhor possa levantar, meu Deus, homens e mulheres que combatam a desigualdade social, que combatam a violência, que possam combater, em nome de Jesus, todas as mazelas existentes em nossa sociedade. Que o senhor possa levantar homens e mulheres de Deus que possam assumir a gestão do nosso país.” “Amém! Aleluia!” A oração durou três intensos minutos. Acenderam-se as luzes. Delmasso, de 34 anos, é um jovem pastor da igreja evangélica Sara Nossa Terra. É também candidato a deputado distrital – em Brasília, o equivalente a deputado estadual. Numa cruzada político-religiosa, ele tem madrugado para visitar igrejas, falar sobre “a sociedade que queremos” e pedir orações. A panfletagem tradicional fica do lado de fora dos templos. Por lei, ele não pode pedir voto no culto. Pode, no entanto, suplicar que rezem por ele. Até outubro, esse tipo de cena se multiplicará nos milhares de igrejas do país. Candidatos evangélicos de diversas denominações (só pastores são 270) tentarão chegar ao Congresso. Delmasso é um dos 345 postulantes a um mandato que usam na urna títulos como “pastor”, “bispo” ou “missionário”, segundo um levantamento feito por ÉPOCA. É um crescimento de 47% em relação a 2010 e mais que o triplo de 1998. Num Brasil cada vez mais evangélico, que pode eleger um deles para o Planalto, ÉPOCA acompanhou de perto o jeito evangélico de fazer política – e campanha. Seguimos dois pastores-candidatos. Um foi o próprio Delmasso, do PTN, pastor de uma igreja fundada em 1992, com mais de 1.000 templos e 1,3 milhão de fiéis. O outro foi o deputado federal Ronaldo Fonseca, candidato à reeleição pelo Pros do Distrito Federal. Fonseca é pastor da Assembleia de Deus, maior e mais tradicional denominação evangélica do país, fundada em 1910, com mais de 12 milhões de seguidores. Naquela manhãzinha gelada de julho, depois da reza pelo futuro do país e pela qualidade de seus líderes, preferencialmente “homens de Deus”, Delmasso conversou com os jovens. Estava descontraído. Muitos deles admitiram ser ex-dependentes químicos. O culto acontece tão cedo porque os moradores de periferia madrugam para trabalhar – e o caminho é longo. Os ônibus já circulavam lotados na avenida em frente ao templo antes das 6 horas. Delmasso não falou explicitamente que era candidato. Não precisava. Os presentes foram avisados na semana anterior de que ele estaria ali naquele dia. “Quem não quiser me ouvir falar não vem”, diz Delmasso, enquanto dirige seu carro pelas ruas vazias de Brasília. Seu raciocínio é simples: não é pecado usar o púlpito para falar de um país melhor, para incentivar o fiel a exercer seu papel de cidadão. Desde que não se peça voto. Delmasso não é exatamente carismático. Mas sabe falar com os jovens – e ouvi-los. Ele perora por dez minutos sobre os perigos de uma sociedade onde crianças têm acesso a livros em que se ensinam posições sexuais. Sobre as ameaças de uma legislação que visa baixar a idade de consentimento sexual dos 14 para os 12 anos – ou, como ele define, “a legalização da pedofilia”. Ambas as questões passam longe da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ele prossegue. Fala da proteção de suas filhas contra as drogas, tema sob medida para aquele público. Roga que os fiéis pensem no futuro que querem para si. A conferência é encerrada pelo pastor daquela unidade. Ele pede bênçãos “para a caminhada do Rodrigo”. |
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