É pecado uma igreja evangélica realizar uma festa junina? Para muitas denominações do Nordeste ao Sul do Brasil essa barreira já foi rompida, e as celebrações atraem muitos fiéis.
Excluindo os elementos que remetam aos santos e ao catolicismo, surgiram muitas versões da festa pagã, só que com uma ‘cara’ gospel.
As fogueiras nem sempre são acesas. Os santos não existem (a Festa de São João virou a de “Sem João, com Cristo”) e as bebidas não incluem álcool. O quentão (cachaça fervida com gengibre) virou o “crentão” (suco fervido com gengibre). Há até o vinho crente, feito com suco de uva.
Pastor Cristiano Mendes (34) da Congregação Luterana São Paulo, de Curitiba, é favorável a celebração pela igreja. “Aproveitamos uma festa boa e tiramos aquilo que pode ter erro e fazemos a festa apenas para a congregação”, disse o pastor.
Ele ainda defende a realização do evento, pois não vê pecado em se caracterizar de caipira e comer os pratos típicos do período. “Foi criada a pedido do movimento jovem da igreja para arrecadar fundos para os departamentos de jovens, atrair vizinhos e ter o seu lucro”. É uma oportunidade de confraternização, sem estar ligado aos santos. “Falam em festa de são João, mas não são para o santo em si”, declara Cristiano.
Em São Bernardo do Campo (SP), a Bola de Neve Church realizou no sábado (24) a Festa do Crentão, que reúne em média 1.500 pessoas.
Em Itamotinga, no interior da Bahia, a festa do Sem João surgiu como alternativa aos retiros realizados nesta época do ano. “A maioria das igrejas saem em retiro espiritual, mas a nossa nunca saiu”, afirma Andressa Caldas, 23, líder do grupo de louvor da Igreja Batista da cidade.
O evento trata-se de um encontro com jovens. São realizadas oficinas para meninos e meninas, com dinâmicas, período de louvor. “A comida típica que a gente come é amendoim, no máximo. Tomamos apenas refrigerante”, relata Andressa.
O diácono da Igreja Presbiteriana do Brasil em Funcionário IV, em João Pessoa (PB), Diego Monteiro Pacheco é um dos organizadores do “Sem João, Com Cristo”, que será realizado no dia 1º de julho.
Para Monteiro a data é uma oportunidade para a comunhão, palavra e oração. “A nossa maior preocupação é quanto a nossos jovens não se sentirem atraídos pelos festejos pagãos. Por isso alugamos um local, onde possamos ficar um pouco distante dos festejos, e lá glorificar a Deus”, afirma.
Na Bola de Neve Church da capital paranaense a celebração segue a caracterização caipira. “Rola músicas cristãs no ritmo de festa junina, oração… Enfim, é uma comunhão só que a caráter. Sempre convidamos pessoas que não são pessoas evangélicas. Às vezes, tem quadrilha. E tem o nosso crentão, com suco. É bom, sim”, enfatiza Ana Paula de Oliveira.
Nem todos aprovam
Pastor titular da igreja Nova Aliança, em Água Verde, bairro de classe média de Curitiba (PR), Robson Hernandes de Oliveira (58) é contra as festas juninas celebradas pelos evangélicos.
“Nós não fazemos. Acho melhor evitar, porque a gente identifica o que não endossa, como veneração a figuras históricas que são valiosas, mas a forma de venerar não é algo que a gente valida. Eu prefiro me afastar desse constrangimento desnecessário”, considera Oliveira.
A origem dessas festas, na visão de Robson, está ligada à exaltação de personagens cristãos históricos, a exemplo de São João. “Não queremos dar espaço para que essas pessoas sejam dadas como intermediadores, não queremos uma celebração que nos dê essa impressão ou estimular o sincretismo, que é danoso para a igreja, a gente evita. Mas respeito quem faz”. Com informações Uol
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