Em mais uma revisão de cenário, o Banco Central desenhou um quadro ainda pior para a economia brasileira em 2014: com inflação mais alta e crescimento muito menor do que o previsto antes e retração de investimentos. Segundo o relatório trimestral de inflação — o documento mais importante do BC — a projeção para a expansão da economia neste ano caiu de 2% para 1,6%. Já a estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 6,1% para 6,4%. Os técnicos da autoridade monetária ainda apostam que a inflação romperá o teto da meta do governo no terceiro trimestre.
De acordo com o Banco Central, a inflação deve chegar a 6,6% no auge do período eleitoral. O objetivo estabelecido em lei pelo governo federal é manter a inflação em 4,5%. No entanto, há uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais.
No documento, o BC disse que a inflação foi maior nos últimos meses e admitiu que não esperava por isso. A surpresa teve impacto na estimativa para o IPCA do ano que vem. E a incerteza sobre qual será o tamanho dos reajustes das tarifas públicas também prejudicou a expectativa para a inflação em 2015, que está em 5,7%.
“Esse aumento para 2014 e 2015 se deve, em parte, a taxas de inflação em meses recentes, em geral, acima das projeções prevalecentes por ocasião da publicação do Relatório anterior; e à elevação da projeção dos preços administrados por contrato e monitorados para 2015”, frisaram os diretores do Comitê de Política Monetária (Copom).
Mais uma vez, o BC dividiu a culpa por não conseguir conter a inflação com o Ministério da Fazenda. No trimestre anterior, falou que a política de gastos públicos do governo contribuía para o aumento dos preços. Agora, alertou para a indecisão sobre as tarifas é um novo combustível para a inflação.
“O Copom entende que uma fonte de risco para a inflação reside no comportamento das expectativas de inflação, impactadas negativamente nos últimos meses pelo nível da inflação corrente, pela dispersão de aumentos de preços, e, sobretudo, por incertezas que cercam a trajetória de preços (como o da gasolina) e tarifas de serviços públicos (por exemplo, eletricidade e ônibus urbano) com grande visibilidade”.
Para antecipar uma reação às críticas, o Banco Central estampou no relatório que considera que a política monetária não perdeu força. A autarquia tem sido alvo de ataques do gênero depois de promover o maior período de aperto da política de juros e não colher o resultado esperado.
“(O Copom) entende que as informações disponíveis sugerem que os impulsos monetários introduzidos na economia ano passado e este ano têm se propagado normalmente por intermédio dos principais canais de transmissão, e que assim continuarão nos próximos trimestres”.
Para o mercado financeiro, entretanto, o esforço do Banco Central não deve ser capaz para baixar a inflação neste ano. Segundo a pesquisa que o próprio BC faz com analistas do mercado financeiro, as apostas dos economistas para o IPCA estão em 6,46%.
Já a projeção dos especialistas do BC para o crescimento deste ano está em queda livre há quatro semanas. Há um mês, a expectativa era que o Brasil crescesse 1,63% neste ano. Agora, é apenas 1,16% de expansão da atividade econômica em 2014: distante da aposta anunciada hoje pela autoridade monetária.
É que o Banco Central acredita que a produção agropecuária deverá crescer 2,8%, a indústria encolher 0,4% e o setor de serviços expandir-se 2,0%. O relatório diz ainda que a projeção para a variação da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) passou de 1% para -2,4%. Agora, colocou a confiança das famílias e das empresas como fundamental para uma possível reação.
“Em prazos mais longos, emergiriam bases para ampliação da taxa de investimento da economia, para uma alocação mais eficiente dos fatores de produção e, consequentemente, para que as taxas de crescimento do PIB retomassem patamares mais elevados. O Comitê ressalta, contudo, que a velocidade de materialização das mudanças acima citadas (como ampliação da mão de obra qualificada) e dos ganhos delas decorrentes depende do fortalecimento da confiança de firmas e famílias”, ressaltou o BC.
O Banco Central tem se mostrado mais preocupado com o crescimento econômico. Tanto que parou de subir os juros em maio para não sacrificar a economia. O Comitê de Politica Monetária interrompeu o mais longo ciclo de aperto monetário da sua história e deixou a taxa básica (Selic) em 11% ao ano.
No entanto, essa decisão foi tomada num momento de resistência da inflação. Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula uma alta de 6,37% por causa de choque de preços de alimentos por fatores climáticos e por uma forte pressão no setor de serviços.
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